A convite do Instituto Wilfred Bion, em outubro de 2021, eu fiz um texto relatando minha experiência de 2 anos de estágio no Instituto. O texto foi publicado no Boletim, e é um testemunho da experiência que tive na Instituição, junto com outros textos excelentes de colegas psicólogos e psicanalistas.
Aqui você pode ler o texto na integra:
2_APRENDENDO COM A EXPERIÊNCIA
Palavra: a vida é inefável e os percursos muitas vezes são tortuosos. De alguma forma, o meu caminho me trouxe até aqui para estudar psicanálise e realizar meu estágio clínico, após uma carreira já trilhada na área de comunicação e em passagens por empresas públicas e privadas. Aos 41 anos eu bati às portas do Instituto Wilfred Bion e fui atendido. Fui bem recebido e acolhido.
Senti-me acolhido desde o princípio, pois o clima do lugar e a postura das pessoas me mostravam que aqui se pode falar e perguntar e dividir o que se formulou. Campo fértil onde podemos criar juntos. E onde cada um floresce. Visões e opiniões divergentes podem coexistir e está tudo bem. Juntos, colhemos os bons frutos de poder sonhar a vida também pelos olhos do outro.
O instituto é uma casa que fica no Jardim Botânico. É um lar habitado. Mesmo quando as luzes estão desligadas, permanecem aqui as ideias e um pouco do que as pessoas deixaram em troca do muito que levaram com elas. Por aqui passam pessoas muito diferentes entre si, mas todas unidas em torno do amor pela psicanálise, nosso legado. Também é um local de trabalho e de estudos. Mas é um local de trabalho e de estudos onde é possível sentir-se em casa.
O Bion é um ponto de encontros. E quando falo de encontros, eu não uso essa palavra apenas de forma casual. Podemos pensar no encontro analítico, no encontro emocional entre duas pessoas na sala de atendimentos, no encontro de vértices distintos e na turbulência dos verdadeiros encontros – de onde podemos sair enriquecidos em nossa evolução, se nossa mente estiver aberta. A mente humana, como expressava Bion, é por si só um “universo em expansão”. Podemos pensar também no encontro genuíno e criativo com a psicanálise para além de dogmas e conceitos pré-estabelecidos, que aqui é sempre um encontro bem-vindo.
Tivemos muitos encontros, e dos bons. Nos preparamos para eles: antes dos seminários fizemos leituras; planejamos com dedicação os eventos do espaço do estudante, como o Café Psicanalítico, o Janelas para o Mercado e a Jornada do Estudante; tivemos a oportunidade de fazer observação do desenvolvimento infantil na Associação Beneficente Santa Zita de Lucca. Depois nos encontramos de novo para pensar e elaborar as vivências à luz da teoria. Criamos sentidos para nossas vivências e para as teorias. Ao longo desse processo pudemos entrar em contato com profissionais mais experientes, pudemos reviver com os pacientes suas angústias e alegrias e juntos pudemos criar e perceber novos sentidos para a experiência humana.
Se falo na primeira pessoa do plural é por um desejo de ecoar também a voz de meus colegas, dos profissionais que nos auxiliaram e coordenaram e supervisionaram, pois fui convidado a falar sobre minha experiência no Instituto. E essa experiência, nós a fizemos todos juntos. Isso porque nossos encontros foram muito verdadeiros. Levarei sempre comigo e com carinho não só as pessoas que conheci como também os entendimentos que conseguimos criar juntos.
Neste lugar, e nesta etapa de minha vida, vivi experiências inaugurais de grande importância e que são formadoras do jovem terapeuta que termina uma etapa de estágio e segue em formação continuada. Nesse momento, fecho ciclos com a conclusão de uma graduação em psicologia e o fim do estágio. Abro novas perspectivas com o início de uma carreira clínica e me preparo para uma formação em psicanálise, levando na bagagem uma série de vivências que passam a fazer parte de quem eu sou. Aqui, ampliei meus conhecimentos em psicanálise e melhorei minha capacidade de escuta. Encontrei novos sentidos e os juntei em uma direção, com a certeza de que a prática clínica é o caminho que devo trilhar.
Ao longo de meu percurso acadêmico e de meus dois anos de estágio, pude reafirmar a ideia de que ser terapeuta é mais do que uma profissão. É uma ética do cuidado, um apreço pelas relações, um estilo de vida. Poder passar por um processo terapêutico ou poder propiciar esse espaço a outras pessoas é algo de extrema delicadeza e sofisticação. E nós que aqui estamos temos o privilégio de nos dedicar ao que amamos.
Palavra: ainda busco os seus sentidos. Terapeutas e pacientes, artesãos que somos das palavras, buscando para cada coisa dentro de nós um nome. Levo comigo o olhar da criança que eu pude observar, a lágrima da emoção que vivenciamos juntos no consultório, a beleza da vida, que mesmo na tristeza é sublime. Levo tudo isso guardado na bagagem, buscando cada vez mais o aqui-e-agora, o instante-já. Com a escuta cada vez mais atenta e a compreensão cada vez mais lúcida.
E que a cada vez que tomemos a palavra, possamos fazer com ela algo de bom e proveitoso. Quem sabe oferecer com ela um alento.
Rudiran F. Messias, Psicólogo, cursando Formação Integrada em Psicoterapia Psicanalítica e Membro associado do Instituto WBion.
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